domingo, 19 de abril de 2009


"Estremeço de prazer por entre a novidade de usar palavras que formam intenso matagal.
Luto por conquistar mais profundamente a minha liberdade de sensações e pensamentos,
sem nenhum sentido utilitário:
sou sozinha, eu e minha liberdade.
É tamanha a liberdade que pode escandalizar um primitivo, mas sei que não te escandalizas com a plenitude que consigo e que é sem fronteiras perceptíveis.
Esta minha capacidade de viver o que é redondo e amplo -
cerco-me por plantas carnívoras e animais legendários, tudo banhado pela tosca e esquerda luz de um sexo mítico.
Vou adiante de modo intuitivo e sem procurar uma idéia: sou orgânica. E não me indago sobre os meus motivos.
Mergulho na quase dor de uma intensa alegria – e para me enfeitar nascem entre os meus cabelos folhas e ramagens"...
Clarice Lispector

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